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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ligação Paranormal!

Telefonemas do “Além”



Por:
Alexandre de Carvalho Borges
Matéria para o Site Alem da Ciência

Um telefone toca em uma casa e do outro lado da linha quem chama não é uma pessoa comum. É um espírito de uma pessoa já falecida que deseja transmitir uma mensagem ou simplesmente informar a seus familiares e amigos que a vida continua e que se encontra vivo em um mundo espiritual. Um cenário de ficção? Uma loucura?


É o palco da Transcomunicação Instrumental moderna. A comunicação com os ditos espíritos é feita, hoje, não apenas com telefones de linha fixa, mas até com celulares, como garantem os transcomunicadores. Após ouvir tamanho “disparate”, a primeira pergunta de qualquer mortal seria esta: qual o número para eu discar para o mundo espiritual? É necessário usar um código DDD (Discagem Direta à Distância) ou um DDI (Discagem Direta Internacional)?

Isto tudo poderia parecer uma piada aos olhos do leigo nesse ramo de pesquisa exótica. Contudo, os pesquisadores respondem: no momento atual não existe nenhum número que possa discar para o Além e muito menos qualquer prefixo – ou uso de qualquer paródia para usar o DDA (Discagem Direta ao Além). Não existe qualquer número, garantem, pois a discagem só é realizada para nós a partir do mundo dos espíritos e nunca de nós para eles. Também, não existem meios de deixar recado na caixa postal do Além.

Registrados ao longo dos anos pelos estudiosos do assunto, os contatos telefônicos narram acontecimentos espetaculares. Na verdade, essa modalidade de comunicação transcendental é mais velha do que o próprio uso de gravadores de fitas cassetes ou mesmo gravadores com uso de fio. Os primeiros contatos narrados aconteceram no Brasil no ano de 1917, através da figura principal do médium Oscar D’Argonnel.

O médium recebia as ligações de uma entidade chamada Padre Manoel. Posteriormente, no ano de 1925, D’Argonnel escreveu o livro “Vozes do Além pelo Telefone”, narrando suas experiências de telefonia espiritual que vivenciou entre os anos de 1917 e 1925. De lá até hoje, estes telefonemas ainda ocorrem, passando também da linha fixa para a aparelhagem móvel, os celulares. Estima-se que já se ultrapassou mais de 2.000 ligações de origem alegadamente espiritual, somente na Europa.
Porém, até hoje esse fenômeno exótico não foi suficientemente explicado e nem os próprios transcomunicadores entraram em consenso do modo como procede seu mecanismo, apesar de alguns já terem aceito que sua origem é espiritual (seja de espíritos ou entidades não humanas). Esses registros telefônicos pautam por serem esporádicos, e por não poderem ser submetidos a reproduções controladas quando assim desejar – como o exemplo das outras modalidades de comunicação, tais como no uso do gravador e do rádio. Possuem também características peculiares, como na grande maioria terem uma qualidade de áudio superior a outros meios em voz e por durarem também maior tempo.

Podemos destacar algumas características dos contatos por telefone:

a) Maior duração da comunicação, chegando até a 50 minutos ou pouco mais;

b) Maior qualidade do áudio, possibilitando melhor nitidez e claridade de interpretação do conteúdo;

c) Ocorrência espontânea e fugindo ao controle de reprodução pelo homem;

d) Suspeita-se da necessidade de um médium para a ocorrência;

e) Dentre as outras modalidades de transcomunicação por aparelhos, está entre as mais raras;

f) Pode-se ocorrer através de ligação telefônica comum já estabelecida, como uma linha cruzada.

Quais seriam as explicações para elucidar esse mistério? É certo que não possuímos o número do telefone do Além para executarmos uma investigação sobre a hipótese espiritual. Resta-nos fazer algumas averiguações, como registrar a ocorrência de voz em um gravador e analisar este material. As explicações prosaicas mais aventadas lançam hipóteses de que tais telefonemas são:

a) Apenas ilusões auditivas das pessoas que atendem;

b) As pessoas que atendem são vítimas de trotes de brincalhões;

c) São fraudes organizadas por outros transcomunicadores – se passando por falecidos –, no intuito de iludir outros colegas pesquisadores ou mesmo para manterem-se em evidência;

d) De que as vozes são procedentes de linhas cruzadas que interferem numa conversação normal.

Outros exaurem a questão com um simples virar de ombros, alegando que é simplesmente fruto de fraude do próprio transcomunicador. Todas estas tentativas de explicações ainda não foram suficientes para solucionar os enigmáticos telefonemas em toda sua conjuntura. Para rebater a hipótese “a)”, é confirmado que muitos destes telefonemas foram gravados, sendo assim, não sustenta a hipótese de que os ouvintes sofriam de ilusões auditivas. É lembrado que algumas ligações pretensamente espirituais são tão nítidas e claras, no que se refere ao áudio, que mais parecem ligações telefônicas terrestres.

Adolf Homes averiguou em sua companhia telefônica as chamadas paranormais


Para as outras hipóteses explicativas é imprescindível realizar duas análises técnicas: 1- Identificar o número do telefone de quem ligou; 2 – Executar o mais importante, uma análise de fonética forense para verificação de locutor. A hipótese “d)” fica ilhada apenas com a possibilidade de identificação de falantes, já que a intervenção supostamente paranormal veio como uma linha cruzada numa chamada que já estava estabelecida – online – e, portanto, o número registrado seria apenas a do outro interlocutor.
Identificar um número telefônico é muito fácil com um identificador de chamadas, rastreando objetivamente o proprietário daquela conta. Entretanto, pode haver incompatibilidade entre alguns sistemas de identificação. Por exemplo, no Brasil usa-se o chamado BINA (B Identifica Número de A), e nos Estados Unidos usa-se o Caller ID. Se a sua companhia telefônica não der suporte para trabalhar com o sistema americano, a identificação dessa chamada internacional não será possível. Ademais, hoje em dia alguns aparelhos de telefonia móvel também podem tornar a sua ligação em modo anônimo, ocultando o seu número para quem irá atender.

No entanto, é possível contornar essas situações da forma mais objetiva de análise, quebrando o sigilo telefônico do aparelho que recebe as ligações (essa operação em alguns países envolve procedimento de ação judicial). Todavia, surpresas foram verificadas neste método básico de análise, ao se constatar que algumas ligações pretensamente atribuídas ao mundo espiritual não procediam teoricamente de lugar algum, ou seja, não constavam números nos identificadores de chamada e nem nos registros das centrais telefônicas. Um indício de uma ligação anômala?

Em janeiro de 1996, o pesquisador alemão Adolf Homes pediu para sua companhia telefônica, a Deutsche Telekom, monitorar e rastrear, por um período de dois meses, todas suas chamadas telefônicas. Depois de adotado todo o procedimento, Homes recebeu quatro ligações atribuídas aos espíritos, sendo duas em janeiro, uma em fevereiro e outra em data não especificada. Nesse período, Homes afiança que sua família não recebeu mais qualquer outra chamada. O resultado do monitoramento, expedido em março pela companhia alemã, foi de que nenhuma ligação havia sido feita para o telefone de Homes no período desses dois meses.

Ou seja, nada oficialmente havia passado pela sua companhia telefônica, apesar dele ter recebido quatro ligações a que atribui de espíritos. O inusitado dessas ocorrências foi que o próprio dito espírito encorajou Homes a realizar o rastreamento do seu telefone, como meio de autenticação do seu processo paranormal. Para explicar essa falta de registro nas companhias telefônicas, os transcomunicadores acreditam que uma parcela destas chamadas telefônicas não transita normalmente pelas companhias telefônicas, porque são geradas no próprio interior do aparelho.

A próxima análise a ser feita – e a mais importante – é a verificação de locutor. A voz de cada ser humano é única, assim como a impressão digital, e serve como identificação humana. Com o objetivo de determinar se ambas foram produzidas pela mesma pessoa, essa análise é feita comparando-se duas amostras de vozes. O que se pretende é descobrir a autoria daquela suposta voz espiritual e verificar se não foi, por exemplo, um objeto de fraude oriundo de um trote de um vizinho – ou algum outro indivíduo imitando um falecido. Este exame de fonética forense poderá ser feito também para determinar quaisquer características peculiares ou anômalas no sinal de voz.

Um exame deste tipo foi feito a cargo da pesquisadora brasileira Sonia Rinaldi, em uma ocorrência por telefone celular da senhora Zilda Monteiro, no ano de 1999. A história resumida começou quando Edson, o ex-marido de Zilda, entrou no hospital como vítima de enfarto. Zilda passou a acompanhar o quadro clínico de Edson rotineiramente por telefone ou pessoalmente.

Foi em um desses dias que Zilda, por telefone, pediu que Edson ligasse para ela assim que ele saísse do hospital, ao qual ele respondeu que “se eu não ligar daqui… ligo de Lá”. Ele queria dizer que ligaria de qualquer forma, mesmo se morresse. Edson era um entusiasta da Transcomunicação Instrumental, vindo a realizar, no período ainda de casado com Zilda, diversas gravações em fitas cassetes.

O quadro clínico de Edson piorou, dando entrada na UTI. Ficou 39 dias internado, vindo a falecer em 16 de agosto de 1999. Os dias passaram e na data de 16 de setembro de 1999, Zilda recebe uma mensagem de voz na caixa postal do seu celular. A voz dizia claramente “Eu te amo… avisei”!

Essa voz foi enviada para a pesquisadora Sonia Rinaldi, de São Paulo, da qual repassou ao engenheiro Alessandro Pecci para analisar e expedir um laudo. O objetivo era fazer uma análise de verificação de locutor, utilizando a voz registrada na caixa postal do celular (que supostamente seria o Edson se comunicando depois da morte) e compará-la com sua voz, quando ainda vivo – registrada nas fitas cassetes dos experimentos que ele realizava de transcomunicação. Também foram utilizadas, para confronto no exame, duas amostras de vozes de duas pessoas diferentes (denominadas aqui de Voz de Terceiros A e B).

O método de comparação empregado foi utilizar os coeficientes da amostra de voz de uma fita cassete do Edson, quando vivo, para treinamento em um sistema de reconhecimento automático do locutor, independente do texto, baseado em misturas gaussianas (GMM – Gaussian Mixture Models), utilizando 16 misturas para representar o locutor. O algoritmo de comparação utilizado foi o logaritmo da verossimilhança (log-likelihood). 

O laudo explica que: “O número de vetores indica o número de janelas resultantes do pré-processamento, o valor de saída é a soma do logaritmo da probabilidade de o vetor pertencer ao locutor em questão, e a normalização é feita dividindo-se o valor de saída pelo número de vetores”.

Como resultado final, o perito concluiu que não existiam evidências que comprovassem que os locutores, denominados aqui de “Voz do Edson Vivo” e “Voz da Caixa do Celular”, sejam diferentes, dado a proximidade dos coeficientes encontrados. Ou seja, a voz na caixa postal da Zilda tinha sido demonstrada ser compatível com a voz do Edson. Como isso poderia acontecer, já que o Edson havia morrido 25 dias antes no hospital? A promessa de que ele falaria de “Lá”, caso morresse no hospital, se concretizou com a declaração de amor pelo celular, na voz interpretada como “Eu te amo… avisei”?

Seria a comprovação científica de que os mortos vivem após a morte e se comunicam por telefone? Aparentemente um caso perfeito, mas que se esbarra em algumas problemáticas. A princípio, a identificação do número de quem ligou e deixou mensagem na caixa postal não pôde ser averiguada. Zilda contatou sua companhia telefônica para saber de ligações efetuadas a ela naquela data, mas foi informada que a quebra de sigilo telefônico só seria possível mediante meios judiciais, conforme as leis brasileiras (o que não foi empecilho para Adolf Homes com leis alemãs mais flexíveis de telefonia).

A ocorrência torna-se fraca para comprovação de vida pós-morte pela ciência, mesmo tendo sido constatado que não existe evidência de diferentes origens vocais. Mesmo sabendo que uma voz humana serve como umas das identificações para diferenciar cada indivíduo, a prova peca porque a ocorrência como um todo não se deu debaixo de estrito controle científico. Essa é a grande dificuldade para este tipo de pesquisa na modalidade da transcomunicação por telefone, devido a sua aparição ser de natureza espontânea, aleatória e de conteúdo imprevisível.

É certo que outras modalidades de pesquisa na Transcomunicação Instrumental podem ser feitas sob controle científico, no entanto a telefônica até o momento ainda fica prejudicada. Só o fato de que a amostra de voz da caixa postal do celular não estava debaixo de controles científicos iniciais, já seria hipótese alternativa para que, por exemplo, ela pudesse ser uma fraude.

Como uma fraude? A simples fraude poderia ter sido perpetrada por alguém brincalhão que tinha em posse uma gravação de voz do Edson quando vivo, e a utilizou remetendo-a ao celular da Zilda. Naturalmente uma análise técnica posterior apontaria a probabilidade das vozes terem origem de uma mesma pessoa, porém não comprovaria que a voz veio do mundo espiritual ou de um brincalhão da esquina utilizando uma gravação antiga.

O simples fato de não ter identificado o número do telefone que chamou o celular da Zilda, permite vazão a outras hipóteses. E a dificuldade torna-se ainda maior se um número fosse identificado, mas os transcomunicadores achassem que o espírito usou o celular de alguém para se comunicar com seu ente querido. As questões ficariam difíceis de serem descartadas.

Uma possível fraude, de deixar um recado em caixa postal, seria mais fácil do que a fabricação de uma fraude de uma conversação direta entre o espírito e o vivo. Mas não seria impossível! Seria bem plausível simular uma conversação quando o farsante do outro lado da linha tenha trechos pré-gravados do falecido, com algumas sentenças e expressões mais prováveis de serem ditas. Daria para enganar o incauto, fazendo-o acreditar numa comunicação vinda do Além. Uma posterior análise de verificação de falantes apontaria como legítima unicidade de voz entre o falecido quando vivo e o que agora se comunica.

Uma cena do filme de Woody Allen, Um misterioso assassinato em Manhattan, mostra exatamente Larry Lipton (Woody Allen) utilizando diversos gravadores com trechos de voz pré-gravados, montados e concatenados, para simular uma conversa com outra pessoa no telefone. É por isso ser de fundamental importância, antes de tudo, a análise da autenticidade da gravação, na busca e verificação de alguma montagem ou edição. Não se pode afirmar que isto tudo tenha ocorrido no episódio do celular de Zilda Monteiro, todavia para a ciência todas as hipóteses naturais têm que ser descartadas com segurança.

Por todos estes problemas inerentes, ainda não há qualquer comprovação científica de que alguma chamada telefônica tenha origem de um mundo espiritual. Entretanto, não é por falta de comprovação matemática, na “equação das vozes”, que será impedimento para as pessoas continuarem a narrar que passaram por experiências marcantes, quando ouviram seus parentes falecidos e mantiveram conversações com eles por telefone.

Em busca da comprovação, soluções para contornar todos essas variáveis podem ser arquitetadas em um ambiente de pesquisa controlado. O que resta para a transcomunicação telefônica é uma maior pesquisa e estudo, visando a busca desse almejado objetivo.




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