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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Feliz Natal!


Então, é Natal! Aquela data mágica em que as pessoas conseguem esquecer os problemas que tiveram durante o ano entre presentes, uma farta ceia, fogos e cumprimentos. A magia dessa época está associada aos símbolos, a iluminação das ruas, à alegria das crianças enquanto aguardam o “bom velhinho” e a relação duvidosa com o nascimento de Jesus. Tudo é divertido: o amigo oculto (ou secreto), o parente que passa mal por ter comido muito ou até mesmo os conflitos com presentes equivocados e o cunhado bêbado. No entanto, a data também tem um lado mais assustador do que ouvir o CD da Simone! Muitos não sabem, mas o Natal é considerado pelos pagãos como um dia para espantar espíritos malignos com mais ênfase até do que o próprio Halloween! Alguns acreditam que os cristãos do século passado se apoderaram de uma festa de inverno romana quando as noites eram longas e os demônios do caos vagavam pela Terra. Todo esse lado sombrio incentivou a produção de inúmeros filmes de terror com essa temática, sendo a maioria relacionada a um Papai Noelassassino ou brinquedos assustadores.


Antes mesmo da febre dos slashers que homenageavam dias festivos (Dia dos Namorados MacabroHalloweenReveillon Maldito…), em 1974, foi feito um longa que trazia um grupo de garotas sendo atacado por um psicopata no Natal. Entre cabelos e roupas que entregavam a época hippie, “Black Christmas” é um filme bem feitinho, com algumas cenas de suspense escondidas numa fotografia escura e na trilha macabra de Carl Zittrer(A Morte Convida para Jantar). Com a onda dos remakes, seria estranho se essa produção obscura dirigida por Bob Clark (Children Shouldn’t Play with Dead Things) não ganhasse uma releitura com a vestimenta violenta da época moderna. Assim, em 2006, sob o comando de Glen Morgan (A Vingança de Willard), chegou aos cinemas americanos e às locadoras brasileiras NATAL NEGRO, um slasher intenso e sangrento, exagerado e superficial.
A ideia de refazer BLACK CHRISTMAS surgiu do sucesso de refilmagens como “O Massacre da Serra Elétrica“, de Marcus Nispel, e “Madrugada dos Mortos“, de Zack Snyder. Enquanto se discutia a realização de remakes para “Sexta-Feira 13“, “Halloween” e “A Hora do Pesadelo“, o especialista em roteiros, Glen Morgan (Arquivo XMillenium,PremoniçãoPremonição 3…), desenvolveu o conceito de uma nova versão para o slasher setentista. Ofereceu o argumento para a Dimension Films, que abraçou a ideia, dando oportunidade do autor escolher o elenco. Após o teste de escalação dos atores e atrizes – que recusou a participação de (pasmem!!) Amanda Seyfried -, as filmagens tiveram início em janeiro de 2006, no Canadá, e duraram 29 dias.
NATAL NEGRO estreou nos cinemas americanos no dia 25 de dezembro do mesmo ano, mas não foi muito bem recebido nas bilheterias. Com um orçamento estimado em 9 milhões, arrecadou apenas 16, evitando até mesmo a estreia nos cinemas brasileiros. Por aqui a novela foi mais longa! Entre definições do título – a princípio chamava-se “Noite de Terror” – e adiamento do lançamento previsto para 7 de maio de 2007, o longa teve seu destino traçado nas locadoras pela Paris Filmes. Qualquer possibilidade de realizar uma continuação acabou sendo enterrada juntamente com a carreira de Glen Morgan como diretor. O que há de tão ruim nesse remake para tantas pessoas falarem mal? É como o discurso da sogra no almoço de Natal: longo, cansativo e não chega a lugar algum.
Na véspera de Natal, com a casa cheia de luzes e enfeites, uma garota é assassinada, tendo um saco sobre sua cabeça antes de receber o golpe fatal. No mesmo local, a casa de fraternidade feminina Delta Alpha Kappa, algumas belas garotas aguardam a troca de presentes, conversando sobre a tediosa data e sua magia. Longe dali, na instituição mental “Clark Sanatorium” (referência ao nome do diretor do original), o psicopata Billy Lenz está recebendo a sua “ceia” e a visita de um Papai Noel. Depois de enganar e matar o guarda e o visitante, ele se veste com as roupas natalinas e foge do local.
Eu estarei em casa para o Natal.” Sim, a casa a qual ele se refere é a própria fraternidade, onde ele nascera e crescera com diversos problemas que ocasionaram seu lado assassino. A infância doMichael Myers de Rob Zombie foi na Disney se comparada a deste futuro psicopata. Devido a uma desordem no fígado, Billy nasceu com a pele amarelada. Anos mais tarde, testemunhou o assassinato do pai pela mãe e pelo amante; foi abusado por ela e era mantido preso no sótão, andando pelo ambiente como as “criaturas atrás da parede“. Da relação com a mãe nasceu Agnes, impedida de ter contato com o pai-irmão. Num dia de fúria, Billy arrancou um olho da irmã e matou o padrasto e a mãe, fazendo bolachas com a pele dela para tomar com leite, até ser encontrado pela polícia. Essa sequência é o que melhor acontece nesse filme, tanto que foi divulgada como clipe na época de seu lançamento.
A lenda de Billy Lenz (Robert Mann) era tão conhecida na fraternidade que todos os anos, no Natal, alguém o tirava no amigo secreto, tendo que presenteá-lo figurativamente. Barbara ‘Sra. Mac’ MacHenry(Andrea Martin, que participou do filme original de 1974) cuida das jovens Kelli (Katie Cassidy, de “A Hora do Pesadelo“, 2010), Dana (Lacey Chabert, de “Minhas Adoráveis Ex-Namoradas“), Lauren (Crystal Lowe, de “Floresta do Mal“), Megan (Jessica Harmon, de “Pânico na Ilha“), Clair (Leela Savasta, de “Cra$h & Burn“), Heather (a gatinha scream-queen moderna, Mary Elizabeth Winstead, de “A Coisa“, 2011) e Melissa (Michelle Trachtenberg, da série “Gossip Girl“).
Após a morte de Clair na cena inicial, sua irmã Leigh(Kristen Cloke, esposa de Glen Morgan) vai ao local para encontrá-la. Sem saber o motivo do desaparecimento da garota, o grupo passa a ser ameaçado por telefonemas onde vozes estranhas são proferidas entre frases como “Ela é da minha família agora.”, algo que também acontecia no filme original acompanhado de sussurros e respiração ofegante. Uma a uma, elas são vítimas de um assassino capaz de aparecer em diversos lugares ao mesmo tempo – seria uma falha se não houvesse uma surpresa final que revelasse o motivo dessa agilidade nas ações.
Abalada pelo vídeo de sexo postado na internet pelo namorado Kyle (Oliver Hudson, de “Cães Assassinos“), Kelli aos poucos vai assumindo o papel de protagonista, enquanto suas amigas vão desaparecendo em mortes violentas. Olhos arrancados, cabeças esmagadas e muitas espetadas pelo corpo, as sobreviventes não conseguem encontrar um meio de sair desse pesadelo devido a forte nevasca que atinge a região.
Um dos grandes problemas de NATAL NEGRO está no seu excesso de conteúdos, apresentados com flasbacks em indas e vindas da narrativa. Na busca pelo desenvolvimento da personalidade do assassino, Glen Morganesquece de trabalhar com o presente, tornando as garotas extremamente artificiais, com seus diálogos não coerentes com suas atitudes. Parece que o roteirista quis criar um filme inteligente, com alguns subplots e referências, mas conseguiu exatamente o efeito contrário: fez de sua obra um produto confuso e sem profundidade, cujo sangue em profusão é a única justificativa de sua existência.
São evidentes as comparações com HALLOWEEN, de John Carpenter. Esse assassino-família, com o rosto indevidamente escondido nas sombras, seguiu a cartilha do vilão de Haddonfield, com a fuga do hospital-prisão e a sequência final, totalmente referente à velha franquia. A diferença está na condução videoclipe deGlen Morgan, evidenciada na cena bagunçada no sótão, e na presença de protagonistas bonitas, mas ordinariamente vazias.
Glen Morgan mostra que viu filmes de terror a submeter sua produção a referências diversas como o slasher “Natal Sangrento” (na fuga do assassino vestido de Papai Noel) e “Feliz Aniversário para Mim” (não reunião dos cadáveres), além do já citado “Halloween” e do, é claro, “Noite de Terror“. São cenas que podem estampar um sorriso nos espectadores, mas não passam disso. Talvez teria funcionado melhor se o diretor tivesse aprendido a fazer suspense com essas produções ao invés de apenas homenageá-las.
Há cenas bem sangrentas no filme como a morte do padrasto, esfaqueado na órbita, fazendo seu olho aparecer pela parte de trás da cabeça. Mesmo sendo um momento gore é preciso considerar o absurdo da cena, pois nem com toda a força alguém conseguiria atravessar a cabeça de uma pessoa e deixar o olho intacto. E a morte de Melissa na versão americana, com os olhos arrancados, servindo para um dos pôsteres da produção, é bem feita. Na versão inglesa, a garota tem sua cabeça esmagada por um patins de gelo. Aliás, há finais alternativos e cenas deletadas no DVD brasileiro, por incrível que pareça! Um trabalho caprichado para uma produção que nem merecia tanto!
Apesar de falho na construção de seus personagens e no suspense, NATAL NEGRO pode ser recomendado para os fãs de slashers modernos – filmes com muita violência e mortes gráficas, mas fáceis de serem esquecidos. É como o presente da tia: embalagem linda e atraente para algo desnecessário e de baixa qualidade.

Fonte: bocadoinferno

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