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Então, é Natal! Aquela data mágica em que as pessoas conseguem esquecer os problemas que tiveram durante o ano entre presentes, uma farta ceia, fogos e cumprimentos. A magia dessa época está associada aos símbolos, a iluminação das ruas, à alegria das crianças enquanto aguardam o “bom velhinho” e a relação duvidosa com o nascimento de Jesus. Tudo é divertido: o amigo oculto (ou secreto), o parente que passa mal por ter comido muito ou até mesmo os conflitos com presentes equivocados e o cunhado bêbado. No entanto, a data também tem um lado mais assustador do que ouvir o CD da Simone! Muitos não sabem, mas o Natal é considerado pelos pagãos como um dia para espantar espíritos malignos com mais ênfase até do que o próprio Halloween! Alguns acreditam que os cristãos do século passado se apoderaram de uma festa de inverno romana quando as noites eram longas e os demônios do caos vagavam pela Terra. Todo esse lado sombrio incentivou a produção de inúmeros filmes de terror com essa temática, sendo a maioria relacionada a um Papai Noelassassino ou brinquedos assustadores.

Antes mesmo da febre dos slashers que homenageavam dias festivos (
Dia dos Namorados Macabro,
Halloween,
Reveillon Maldito…), em 1974, foi feito um longa que trazia um grupo de garotas sendo atacado por um psicopata no Natal. Entre cabelos e roupas que entregavam a época hippie, “
Black Christmas” é um filme bem feitinho, com algumas cenas de suspense escondidas numa fotografia escura e na trilha macabra de
Carl Zittrer(
A Morte Convida para Jantar). Com a onda dos remakes, seria estranho se essa produção obscura dirigida por
Bob Clark (
Children Shouldn’t Play with Dead Things) não ganhasse uma releitura com a vestimenta violenta da época moderna. Assim, em 2006, sob o comando de
Glen Morgan (
A Vingança de Willard), chegou aos cinemas americanos e às locadoras brasileiras
NATAL NEGRO, um slasher intenso e sangrento, exagerado e superficial.

A ideia de refazer
BLACK CHRISTMAS surgiu do sucesso de refilmagens como “
O Massacre da Serra Elétrica“, de
Marcus Nispel, e “
Madrugada dos Mortos“, de
Zack Snyder. Enquanto se discutia a realização de remakes para “
Sexta-Feira 13“, “
Halloween” e “
A Hora do Pesadelo“, o especialista em roteiros,
Glen Morgan (
Arquivo X,
Millenium,
Premonição,
Premonição 3…), desenvolveu o conceito de uma nova versão para o slasher setentista. Ofereceu o argumento para a
Dimension Films, que abraçou a ideia, dando oportunidade do autor escolher o elenco. Após o teste de escalação dos atores e atrizes – que recusou a participação de (pasmem!!)
Amanda Seyfried -, as filmagens tiveram início em janeiro de 2006, no Canadá, e duraram 29 dias.
NATAL NEGRO estreou nos cinemas americanos no dia 25 de dezembro do mesmo ano, mas não foi muito bem recebido nas bilheterias. Com um orçamento estimado em 9 milhões, arrecadou apenas 16, evitando até mesmo a estreia nos cinemas brasileiros. Por aqui a novela foi mais longa! Entre definições do título – a princípio chamava-se “
Noite de Terror” – e adiamento do lançamento previsto para 7 de maio de 2007, o longa teve seu destino traçado nas locadoras pela
Paris Filmes. Qualquer possibilidade de realizar uma continuação acabou sendo enterrada juntamente com a carreira de
Glen Morgan como diretor. O que há de tão ruim nesse remake para tantas pessoas falarem mal? É como o discurso da sogra no almoço de Natal: longo, cansativo e não chega a lugar algum.

Na véspera de Natal, com a casa cheia de luzes e enfeites, uma garota é assassinada, tendo um saco sobre sua cabeça antes de receber o golpe fatal. No mesmo local, a casa de fraternidade feminina
Delta Alpha Kappa, algumas belas garotas aguardam a troca de presentes, conversando sobre a tediosa data e sua magia. Longe dali, na instituição mental “
Clark Sanatorium” (referência ao nome do diretor do original), o psicopata
Billy Lenz está recebendo a sua “
ceia” e a visita de um
Papai Noel. Depois de enganar e matar o guarda e o visitante, ele se veste com as roupas natalinas e foge do local.

“
Eu estarei em casa para o Natal.” Sim, a casa a qual ele se refere é a própria fraternidade, onde ele nascera e crescera com diversos problemas que ocasionaram seu lado assassino. A infância do
Michael Myers de
Rob Zombie foi na Disney se comparada a deste futuro psicopata. Devido a uma desordem no fígado,
Billy nasceu com a pele amarelada. Anos mais tarde, testemunhou o assassinato do pai pela mãe e pelo amante; foi abusado por ela e era mantido preso no sótão, andando pelo ambiente como as “
criaturas atrás da parede“. Da relação com a mãe nasceu
Agnes, impedida de ter contato com o pai-irmão. Num dia de fúria,
Billy arrancou um olho da irmã e matou o padrasto e a mãe, fazendo bolachas com a pele dela para tomar com leite, até ser encontrado pela polícia. Essa sequência é o que melhor acontece nesse filme, tanto que foi divulgada como clipe na época de seu lançamento.

A lenda de
Billy Lenz (Robert Mann) era tão conhecida na fraternidade que todos os anos, no Natal, alguém o tirava no amigo secreto, tendo que presenteá-lo figurativamente.
Barbara ‘Sra. Mac’ MacHenry(
Andrea Martin, que participou do filme original de 1974) cuida das jovens
Kelli (
Katie Cassidy, de “
A Hora do Pesadelo“, 2010),
Dana (
Lacey Chabert, de “
Minhas Adoráveis Ex-Namoradas“),
Lauren (
Crystal Lowe, de “
Floresta do Mal“),
Megan (
Jessica Harmon, de “
Pânico na Ilha“),
Clair (
Leela Savasta, de “
Cra$h & Burn“),
Heather (a gatinha scream-queen moderna,
Mary Elizabeth Winstead, de “
A Coisa“, 2011) e
Melissa (
Michelle Trachtenberg, da série “
Gossip Girl“).

Após a morte de
Clair na cena inicial, sua irmã
Leigh(
Kristen Cloke, esposa de Glen Morgan) vai ao local para encontrá-la. Sem saber o motivo do desaparecimento da garota, o grupo passa a ser ameaçado por telefonemas onde vozes estranhas são proferidas entre frases como “
Ela é da minha família agora.”, algo que também acontecia no filme original acompanhado de sussurros e respiração ofegante. Uma a uma, elas são vítimas de um assassino capaz de aparecer em diversos lugares ao mesmo tempo – seria uma falha se não houvesse uma surpresa final que revelasse o motivo dessa agilidade nas ações.

Abalada pelo vídeo de sexo postado na internet pelo namorado
Kyle (
Oliver Hudson, de “
Cães Assassinos“),
Kelli aos poucos vai assumindo o papel de protagonista, enquanto suas amigas vão desaparecendo em mortes violentas. Olhos arrancados, cabeças esmagadas e muitas espetadas pelo corpo, as sobreviventes não conseguem encontrar um meio de sair desse pesadelo devido a forte nevasca que atinge a região.
Um dos grandes problemas de NATAL NEGRO está no seu excesso de conteúdos, apresentados com flasbacks em indas e vindas da narrativa. Na busca pelo desenvolvimento da personalidade do assassino, Glen Morganesquece de trabalhar com o presente, tornando as garotas extremamente artificiais, com seus diálogos não coerentes com suas atitudes. Parece que o roteirista quis criar um filme inteligente, com alguns subplots e referências, mas conseguiu exatamente o efeito contrário: fez de sua obra um produto confuso e sem profundidade, cujo sangue em profusão é a única justificativa de sua existência.

São evidentes as comparações com
HALLOWEEN, de
John Carpenter. Esse assassino-família, com o rosto indevidamente escondido nas sombras, seguiu a cartilha do vilão de
Haddonfield, com a fuga do hospital-prisão e a sequência final, totalmente referente à velha franquia. A diferença está na condução videoclipe de
Glen Morgan, evidenciada na cena bagunçada no sótão, e na presença de protagonistas bonitas, mas ordinariamente vazias.
Glen Morgan mostra que viu filmes de terror a submeter sua produção a referências diversas como o slasher “Natal Sangrento” (na fuga do assassino vestido de Papai Noel) e “Feliz Aniversário para Mim” (não reunião dos cadáveres), além do já citado “Halloween” e do, é claro, “Noite de Terror“. São cenas que podem estampar um sorriso nos espectadores, mas não passam disso. Talvez teria funcionado melhor se o diretor tivesse aprendido a fazer suspense com essas produções ao invés de apenas homenageá-las.
Há cenas bem sangrentas no filme como a morte do padrasto, esfaqueado na órbita, fazendo seu olho aparecer pela parte de trás da cabeça. Mesmo sendo um momento gore é preciso considerar o absurdo da cena, pois nem com toda a força alguém conseguiria atravessar a cabeça de uma pessoa e deixar o olho intacto. E a morte de Melissa na versão americana, com os olhos arrancados, servindo para um dos pôsteres da produção, é bem feita. Na versão inglesa, a garota tem sua cabeça esmagada por um patins de gelo. Aliás, há finais alternativos e cenas deletadas no DVD brasileiro, por incrível que pareça! Um trabalho caprichado para uma produção que nem merecia tanto!
Apesar de falho na construção de seus personagens e no suspense, NATAL NEGRO pode ser recomendado para os fãs de slashers modernos – filmes com muita violência e mortes gráficas, mas fáceis de serem esquecidos. É como o presente da tia: embalagem linda e atraente para algo desnecessário e de baixa qualidade.
Fonte: bocadoinferno
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